HIGIENE VOCAL - PARTE I

COMO O CONSUMO DE LEITE PODE AFETAR A QUALIDADE DA VOZ

Nas diversas palestras ou oficinas que ministro sobre o tema da voz, uma pergunta recorrente que escuto é quais os principais cuidados que se deve ter com a voz. As informações mais acessíveis aumentaram o grau de exigência das pessoas e o que elas querem realmente saber é o porquê das coisas.  Por esse motivo iniciarei essa série explicando os principais cuidados que se devem ter com a voz e suas razões para contribuir com a compreensão do assunto.

Higiene Vocal

O termo Higiene Vocal é usado para traduzir uma série de procedimentos comportamentais cuja função é auxiliar na preservação da saúde vocal, prevenindo problemas nesse campo. Especialmente aqueles que utilizam a voz profissionalmente necessitam observá-los para alcançar e manter uma emissão livre e potencializada.  

Pode-se atuar preventivamente no âmbito do corpo físico, dos alimentos consumidos, da qualidade do ambiente e também no âmbito dos comportamentos emocionais.

Por ser o leite um alimento que tem grande influência na alteração da qualidade do som vocal, iniciarei essa série de higiene vocal por ele.

Leite: alimento mucogênico

Muita gente não sabe, mas o leite pode sim afetar negativamente a emissão da voz.  Isso porque ele é um alimento mucogênico, isto é, estimula o aumento da secreção de muco no organismo, mesmo em quem não tem intolerância à lactose.  Acontece tanto no caso de se consumir o leite em sua forma líquida – leite com café ou com achocolatados - como também no caso de se consumir seus derivados como o queijo, a manteiga, o iogurte, o requeijão, creme de leite, leite condensado e o chocolate.  

O muco é um líquido viscoso, produzido no organismo, sendo uma de suas funções a proteção da mucosa que é o tecido que reveste internamente parte do corpo. Toda a região das vias aéreas superiores - área que corresponde ao nariz, a faringe, a laringe e os seios paranasais – é recoberta por mucosa e o muco em quantidades ideais auxilia no processo de produção e ressonância do som.

Consumo do leite antes de se utilizar a voz:

Se o leite é consumido antes de se usar a voz, nota-se claramente uma alteração na secreção de muco fazendo com ele aumente. Como conseqüência acontece o fechamento das fossas nasais, eliminando o trabalho que elas executam que é filtrar, umedecer e aquecer o ar, forçando a respiração oral (pela boca). Esse aumento da produção de muco acontece também na faringe, laringe e seios para-nasais. Os sintomas são surgimento da coriza, sensação física de garganta seca e sensação sonora de voz opaca e sem brilho. Algumas vezes, esses sintomas não acontecem simultaneamente. Pode-se perceber primeiro a voz mais abafada, com pouca projeção no espaço e uma leve impressão de nariz fechado; outras vezes se tem a necessidade de tomar mais água, pois há um desconforto na garganta e somente depois é que a voz perde sua projeção e a coriza nem chega a se manifestar. Há ainda a possibilidade de aparecimento intenso da coriza, deixando a voz sem nenhuma ressonância nasal, fazendo com que ela se assemelhe àquela que surge em casos de gripe e resfriados. Independente de qual seja a forma de como o excesso de produção de muco se manifesta, há uma sobrecarga de trabalho laríngeo podendo afetar as pregas vocais se o uso da voz for muito intenso ou por um longo período de tempo.

Minha recomendação:

A recomendação principal que eu faço é evitar o consumo do leite e seus derivados de 2 horas a 6 horas antes de usar a voz. Esse é o período necessário para a digestão da lactose e a eliminação do estímulo de produção exagerada de muco. O tempo varia conforme o tipo de alimento, a quantidade ingerida e a intolerância que se tem ao leite.

Pode-se também substituir o leite de vaca por leite de soja. Já há no mercado vários produtos com leite de soja, inclusive creme de leite. E o queijo e o chocolate, podem ser consumidos quando já não for mais preciso um grande desempenho da voz.